Na entrada para o novo ano, o Departamento de Estudos Económicos e Financeiros do Banco BPI elaborou as previsões económicas e financeiras para 2017. A vulnerabilidade de Portugal devido ao baixo ritmo de crescimento económico e a presença de elevados níveis de endividamento públicos e privados, será ponto assente para 2017.
Oito anos volvidos depois da crise financeira internacional de 2007-2008, o crescimento económico mundial continua a pautar-se por uma significativa fragilidade. A estimativa mais recente do aumento do PIB mundial em 2016 situa-se em apenas 3.1%, o que a confirmar-se, será o ritmo mais fraco desde o ano da grande recessão (2009). Verifica-se ainda o arrastamento de um período demasiado longo de fraco crescimento: quando medido em termos de média móvel de 5 anos, 2016 marca um dos pontos mais baixos desde o final dos anos 90, com implicações negativas em termos de capacidade de criação de emprego, geração e distribuição de riqueza.
Para 2017, as previsões apresentam-se cautelosas, antecipando-se apenas uma ligeira aceleração do crescimento. Mas na realidade existe uma enorme incerteza. Por um lado, parecem estar reunidas algumas das condições necessárias para uma retoma mais pujante, liderada pelos EUA, onde a nova Presidência deverá impor um cunho marcadamente expansionista à política orçamental. Acresce também o potencial efeito da melhoria de sentimento dos agentes económicos, evidente já nos últimos meses no andamento dos indicadores de actividade e expectativas em ambos os lados do Atlântico, sinalizando que 2017 poderá ser o ano da recuperação do investimento. E algumas métricas de mercado confirmam este sentimento mais positivo: recordamos a subida das yields norte-americanas para níveis máximos em mais de dois anos (aumento de 120 p.b. desde Julho); o reajustamento em alta das expectativas de inflação nos EUA e UEM; o aumento do preço do petróleo para valores que se aproximam dos 60 USD/barril, entre outros.
Todavia, sobram também factores de risco ou que aconselham prudência na avaliação dos cenários, e que justificam as tímidas taxas de crescimento previstas para 2017 (a média recolhida pela Bloomberg aponta apenas uma expansão de 2.2% nos EUA). Para além dos factores de ordem política (destacam-se as eleições na Europa) e geoestratégica mundial (incluindo o reajustamento dos equilíbrios políticos entre actores de peso mundiais, designadamente EUA, China e Rússia) destaca-se a previsível acção da Reserva Federal, que reforçará o cariz menos expansionista da sua política monetária caso percepcione a acção da política orçamental como sendo sobretudo inflacionista.
Entretanto, nos países da zona euro, para além dos factores de ordem política, o enfoque recairá sob o calendário do Banco Central Europeu, num contexto previsível de gradual reforço dos níveis de inflação e crescimento. Em 2017 poderá regressar alguma tensão ao mercado de dívida soberana do euro, se se intensificar a percepção de que o momento de inversão da política de quantitative easing poderá estar próximo, dadas as fragilidades que subsistem em algumas economias da região. Neste contexto, Portugal está particularmente vulnerável, dado o baixo ritmo de crescimento económico e a presença de elevados níveis de endividamento públicos e privados, num contexto de um stock de riqueza (poupança) relativamente baixo quando comparado com economias congéneres. Será deste equilíbrio de forças entre as políticas económicas e os factores de ordem política, a que se aliam o possível regresso de alguma instabilidade financeira, bem como das respectivas repercussões sob os níveis de confiança, que dependerá o cenário económico de 2017.
Nos mercados financeiros, dado o contexto global descrito, a volatilidade deverá marcar presença ao longo do ano, destacando-se neste capítulo o mercado cambial onde o dólar deverá manter-se forte na primeira metade do ano (não excluímos o cenário da paridade face ao euro). As taxas de juro e a inclinação das curvas de rendimentos deverão aumentar, sobretudo se se confirmarem os cenários mais benignos para o crescimento e inflação. Este movimento será naturalmente mais intenso nas taxas longas do dólar. Todavia, o mercado de dívida soberana é particularmente dominado pela antecipação de cenários e gerido por expectativas, pelo que se poderá assistir ao estreitamento do spread entre as yields de 10 anos dos US Treasuries e do Bund (actualmente em máximos históricos) se se reforçar a percepção de que a viragem da política monetária na Europa está próxima. Finalmente, nos mercados de activos de maior risco – bolsa, commodities – deverá registar-se alguma heterogeneidade de comportamentos e a volatilidade deverá também imperar pois, embora beneficiando potencialmente do movimento de redução de exposição a dívida, estes são activos tipicamente vulneráveis a alterações do ciclo de taxas de juro da Fed.
Fonte: Departamento de Estudos Económicos e Financeiros do Banco BPI
Mais informação: www.bpionline.pt